quinta-feira, 12 de abril de 2007

EDITORIAL [III]

O mercado mundial é hoje uma realidade: não há dona de casa que não o saiba já, quando, com porte épico, desliza pelas «grandes superfícies» (oh! homérica expressão!) com o seu carrinho de compras. Ei‑lo pleno de produtos das mais variadas partes: das bananas da Colômbia à carne da Nova Zelândia, passando pelo bacalhau da Noruega, não tem conta o estendal multilingue de toda a mercancia do universo.

Mas não se trata apenas de um processo económico. Estamos perante uma dinâmica jamais vista de homogeneização cultural: uma americanização selvagem de hábitos e costumes. Assistimos até a uma espécie de colonização do imaginário à escala planetária, da qual, aliás, Hollywood é o melhor instrumento. Daí que as reacções contra o fenómeno da globalização juntem numa mesma amálgama militantes de extremos opostos: nacionalistas de direita e multiculturalistas de esquerda.

Assim sendo, numa época em que o fluxo anónimo do capital financeiro, circulando à velocidade da luz, e as tomadas de decisão de gestores sem rosto das empresas multinacionais determinam — sem qualquer controlo democrático! — o destino da arraia‑miúda da Terra, achamos por bem propor como tema de capa deste número o acontecimento que singulariza, de acordo com uma ontologia do presente, a nossa condição de pós‑modernos. Merece por isso realce a perspectiva de um importantíssimo filósofo moral do nosso tempo, segundo a qual «a forma como sobreviveremos à globalização (se lhe sobrevivermos...) depende da forma como reagirmos eticamente à ideia de que vivemos num só mundo» (Peter Singer). E porquê? Tendo em mente os textos que escreveram, os alunos, homens de amanhã, já conhecem a resposta: «Na aldeia global, a pobreza de outrem rapidamente se torna um problema nosso: falta de mercado para os nossos produtos, imigração legal, poluição, doenças contagiosas, insegurança, fanatismo, terrorismo» (www.un.org./esa/ffd/a55‑1000.pdf.). É de aplaudir, portanto, a pertinência desses artigos, na medida em que enriquecem a edição deste jornal.


Eurico de Carvalho
In «Jornal dos Arcos», n.º 2 (Maio de 2006), pág. 2.

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